A culpa e a maternidade: uma dupla inseparável. Será?

Semana passada estive dois dias viajando, pertinho, em Maringá (Paraná) para um ciclo de palestras e revivi este sentimento que vem me acompanhando desde que me conheço por mãe: a culpa. Culpa de que? Por que? O que estava fazendo de errado?

Desde que sou mãe, sigo realizando minhas atividades de trabalho o que incluí algumas viagens para congressos. Lembro quando a Sofia tinha 1 ano e meio quando viajei sozinha pela primeira vez: foram 3 dias em um congresso em Montevideo. O sentimento pesar e culpa de deixar a pequena era tão contraditório com o desejo de sair sem precisar me preocupar se tinha lenço umedecido, fralda ou uma muda de roupa na minha bolsa. Pensava que teria o luxo de dormir uma noite sem ser interrompida, faria horários descompromissados e estaria fazendo algo do meu trabalho que gosto muito que é compartilhar meus resultados de pesquisa em congressos. Quando voltei desta viagem percebi claramente que estes dias foram tranquilos e que todos ficaram bem e com saudades.

Sempre tive apoio do Ítalo para minha carreira e assumir ficar com as crianças para que possa sair faz parte desta parceria. Tinha bem claro que por ele ser um pai super presente, uns dias sem a mãe não seria prejudicial para as crianças, bem pelo contrário, favorecia um fortalecimento do laço deles. Depois que a Marta nasceu, viajei algumas vezes: fiquei uma semana na Espanha, cinco dias no Peru e esta vez em Maringá. Por mais que o Ítalo nos telefonemas, facetime, whatsapp tenha me dito que tudo estava ótimo, sempre ficava pensando: será mesmo? Ao chegar em casa e ver um semi caos doméstico (pilhas de roupas para lavar, farelos por tudo, brinquedos espalhados,…, isso acontece mesmo estando entre dois) via carinhas felizes, bem alimentadas e a cumplicidade dos momentos especiais só com o papai.

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Não restam dúvidas que para amenizar as culpas maternas é preciso contar com as contrapartidas paternas. É uma troca em favor da manutenção do papel de mulher ativa, que trabalha, que gosta do que faz, que é mãe e que deixa as crianças com o pai pensando que está fazendo a melhor escolha para o momento. Vejo que, por mais que a Sofia diga “agora deu de viajar, né mamãe!” há orgulho em ver que faço o que gosto. Imagino que levarão esse legado com eles.

Vi isso também, há poucas semanas, em relação ao trabalho do Ítalo quando levamos as gurias para a inauguração de um prédio que o ele e o escritório projetaram e executaram. Elas estavam vendo ao vivo o lugar que o papai esteve por muitos dias e meses desenhando e acompanhando o avanço tijolo à tijolo. Havia um sentimento de pertencimento, de que aquilo também era uma parte delas em algo que era dele.

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As cobranças sociais existem e sempre existirão: como é que tens coragem de sair e deixar as crianças? Tu não tens vergonha de estar curtindo estar sozinha? Que espécie de mãe é essa que está bem sozinha, longe da família?

Esses espaços de “solidão” (entre aspas porque mesmo longe, eu fico pensando como estão, o que estarão fazendo, como gostaria que vissem algo que estou vendo, que provassem o que estou comendo,…) são saudáveis para todos. O Ítalo tem me dito que “a minha hora vai chegar”: vai pegar a bicicleta e pedalar por um mês por aí. Espero que consiga logo extravasar, curtir e aproveitar esta “solidão”.

Dentro de poucas semanas, o Benício chega e o Ítalo estará junto comigo, como sempre esteve, dando conta de mim e das gurias: elas precisarão do carinho especial dele quando estiver no hospital com o bebê. Com isso tudo, tenho certeza que este “quebra-cabeça” de divisão de tempo e atenção será montado com sucesso por todos nós. Aí eu pergunto: que lugar tem a culpa nisso tudo?

PS: Esta semana (quinta e sexta) estarei palestrando/conversando/trocando ideias no Espaço Amamãe aqui em Porto Alegre (Menino Deus: 3557.9333; Três Figueiras: 3907.9865) sobre as “Culpas Maternas” (https://www.facebook.com/amamaecentrodesaude/photos/a.512440755484370.1073741829.510853615643084/1070748572986916/?type=3&theater )

Créditos fotos preto & branco: Giselle Sauer

4 comentários sobre “A culpa e a maternidade: uma dupla inseparável. Será?

  1. Culpa? Eu? Não…talvez…
    Há 16 anos vivo este dilema, no entanto, ausentar-se , penso eu, também é um mal necessário para todos. Um crescimento, um amadurecimento … E que muitas vezes dói.

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